terça-feira, 2 de outubro de 2007

Os "Super-Coroinhas"

Por Fernando Geronazzo.

Há alguns meses atrás eu estava navegando pelo site de relacionamentos orkut quando encontrei uma comunidade com um fórum sobre a atuação do mestre de cerimônias do Santo Padre nas celebrações que ocorreram durante sua visita ao Brasil em maio. A maioria dos comentários partiu de jovens e adolescentes que ajudam nas liturgias das diversas paróquias de nossa Igreja. O mais interessante foi perceber o quanto esses jovens estavam desenvolvendo uma espécie de veneração, para não dizer, uma “tietagem” diante deste competente cerimoniário, o que justifica o nome da comunidade: “Eu sou fã de Piero Marini”. Isso estava ficando tão exagerado que começavam a emitir críticas aos brasileiros que estavam à frente da organização da liturgia das celebrações dos quais participaram até alguns bispos.

Então manifestei o meu parecer, até por que tive a oportunidade de ajudar na celebração do Papa no Campo de Marte em São Paulo. E pude ter um contato mais próximo com Mons. Piero Marini.

Realmente vi nele um homem simples, competente e sereno ao desempenhar o seu serviço. Ele buscou fazer algumas alterações que tornaram uma celebração daquele porte mais prática e funcional sem perder a solenidade e dignidade do sacramento.

Claro que muitos jovens não compreenderam minha colocação, afinal mostrei-lhes um mestre de cerimônias muito “normal” e eles precisavam de um ídolo, um homem ideal. Pronto! Bastou isso para a confusão se instalar naquela comunidade virtual...

Mas este fato é só pra ilustrar uma questão mais profunda que surge em nossas comunidades e paróquias: os chamados super-coroinhas.

Cada vez mais vemos jovens se interessarem pelo serviço litúrgico, o que é muito importante, pois nossas paróquias precisam de pessoas que se dediquem na preparação das celebrações, busquem conhecer a riqueza de nossa liturgia que se desenvolveu ao longo dos anos e não pode ser esquecida. Mas, liturgia é muito mais do que gestos, paramentos, pompas e etc. Liturgia é mistério, beleza expressão de fé que vem do interior do nosso ser. A beleza é fundamental na liturgia, porque o belo nos conduz a Deus. Deste que esta beleza não seja superficial e apenas ritual. Resumindo: liturgia é vida!

Quando vemos alguns jovens que começam a ocupar toda a sua vida com o que é superficial na liturgia, temos que ficar atentos. Muitos destes sabem tudo sobre paramentos, brocados, filetes e tudo mais, quando nem lhes compete o uso destas vestes. Ser um bom cerimoniário, por exemplo, não é se portar como um “robô” no altar, com gestos mecânicos que acabam chamando mais atenção que o próprio celebrante. Adolescentes que têm um semblante sisudo e, se alguma coisa der errado... Meu Deus! Está tudo perdido, a missa acabou!

É! Podemos dizer que infelizmente para estes a missa ainda nem começou.

Muitos daqueles jovens, da tal comunidade no orkut, se diziam vocacionados e tinham como modelo o Mons. Marini. Vocacionados de quem? Uma das coisas que eu dizia pra eles é que deviam imitar de seu “ídolo” não apenas sua postura nas celebrações, mas sim o seu seguimento a Jesus Cristo verdadeiro modelo de vocação. Ele é quem celebra a eterna liturgia, pois Ele é o sumo e eterno Sacerdote.

Isto é realmente preocupante, esses meninos (e agora começam a surgir as meninas também) leigos deixam de viver sua juventude, de sair com os amigos, curtir a família ou até namorar para ficarem dentro das sacristias às vezes o dia inteiro lendo rubrica de missal. Quando a Igreja, sobretudo na América latina, faz um apelo à missão, a sair para o encontro daqueles que estão afastados...

Recentemente voltei à acessar a comunidade virtual e, claro, minhas postagens já não estavam lá, pelo menos as mais “polêmicas”. Mas tinha um novo tópico que dizia: “Notícia bombástica! Mons. Marini foi nomeado para o Comitê Organizador dos Congressos Eucarísticos Internacionais” E entre a garotada a pergunta não calava: “Ele vai deixar de ser cerimoniário? Quem vai ser seu sucessor?”.

Realmente ele foi nomeado para esta função, prova de que sua competência vai muito mais além do que os garotos imaginavam, uma vez que os congressos eucarísticos são fundamentais para a evangelização e conscientização dos povos em torno do centro da vida eclesial que é a Eucaristia.

Mas no final deste colóquio um pensamento me vem a mente e me conforta: tratam-se de garotos, eles vão crescer cabe a nós ajudá-los.

Mas outro pensamento me chega agora, porém será abordado em outra ocasião: “a febre dos super-coroinhas não atinge só os jovens e adolescentes!”.


Mons. Piero Marini nasceu em 13 de dezembro de 1942 em Valverde, província de Pavia (Itália).
A partir dos anos sessenta, trabalhou na Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
Como gesto pessoal de reconhecimento, João Paulo II o nomeou arcebispo, recebendo a ordenação episcopal em 19 de março de 1998.

(Foto: visitadopapa.org.br)