segunda-feira, 10 de outubro de 2011

José Oímpio, exemplo de superação, descanse em paz!

No início desta tarde, recebi um e-mail do meu ex-professor do curso de jornalismo cultural na Pós da PUC-SP, Milton Bellintani, com a triste notícia da morte d eum amigo virtual, José Olímpio. Tive contato com ele um uma das aulas na qual conhecemos um dos filmes escritos por ele, "O sal da Terra".
Depois mantivemos contato pelo twitter. A última vez que nos falamos, se não me engano, foi quando eu embarquei para Espanha, para participar da Jornada Mundial da Juventude, quando ele me desejou "boa viagem"...
Caros amigos;

Acabei de receber um e-mail da sobrinha do produtor cultural José Olímpio Cavallin, Mariana, informando sobre a morte dele, no sábado, em Curitiba.

Embora não tenhamos nos conhecido pessoalmente, desenvolvemos uma forte amizade nos últimos cinco anos - iniciada quando ele se tornou cronista da revista Sentidos, em 2006. O ajudei a criar seu blog, que ele manteve ativo nestes últimos dois anos, o ajudava a resolver problemas técnicos para alimentar a página e conversávamos regularmente pelo Skype sobre cinema, uma de suas paixões, e a luta comum pela inclusão – das pessoas com deficiência e de todos os demais que a sociedade ainda não aprendeu a valorizar.

No ano passado, uma turma de alunos meus da especialização em jornalismo cultural da PUC-SP fez uma animada e produtiva entrevista coletiva com ele, via Skype, após a sessão do filme O Sal da Terra – que ele co-produziu e roteirizou, além de compor a trilha sonora. Filme ótimo e conversa tão boa quanto.

Na última vez em que falamos, há duas semanas, ele não comentou nada comigo a respeito de complicações em sua saúde. Ele foi internado na terça, por causa de uma pneumonia, e morreu em consequência de uma parada cardíaca.

O último post que publicou foi no dia 27/9: "Dotô", sobre o título de doutor honoris causa dado ao ex-presidente Lula, na França - que os meios de comunicação tradicionais tentaram esconder, se esquecendo que já não são os únicos distribuidores de notícias.

O Olímpio viveu plenamente seus 52 anos de vida. As sequelas severas de poliomielite, que o acometeu aos 4 meses de idade, não o impediram de produzir como poucas pessoas que conheci na vida. Deixa dois filmes assinados como co-produtor e/ou roteirista (O Sal da Terra e Curitiba Zero Grau), crônicas, algumas canções, posts que são verdadeiras aulas sobre cidadania, contos inéditos e o roteiro de um herói de quadrinhos, o Defnauta.

Deixa uma enorme saudade em todos os que tiveram o privilégio de desfrutar de sua amizade (link para uma entrevista do Olímpio à rádio CBN, em março deste ano).

Abs,

Milton


PERFIL

José Olímpio, por ele mesmo:

"Acho que nasci com vocação para sobrevivente. A poliomielite me pegou aos poucos meses de vida, tive de fazer muita cirurgia e reabilitação. Cuidaram muito bem de mim, teimei um monte; resisti. Aos 17 anos, soube que nunca poderia andar, que frequentar a escola poderia acabar comigo e que eu tinha muito mais a aprender.

Já fui aprendiz de desenhista, tradutor, produtor de programas radiofônicos. Entre uma coisa e outra, uma esperança encarnada de que ainda havia muito a ser conhecido, experimentado, feito.

Hoje, piloto uma cadeira de rodas motorizada, trabalho com produção de cinema, música e dublagem de filmes. E escrevo, escrevo muito; para revistas, três blogs e para quem mais quiser. Falo bastante, mas escrever tem um quê de prometida eternidade.

Ah, também acredito que amar é o melhor negócio possível. Amar a divindade, a família, uma mulher maravilhosa, os amigos e, se a alma for grande o suficiente, a humanidade inteira. Porque, sem ela, este mundo fica muito, mas muito vazio..."

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A ERA DAS PEQUENAS EMINÊNCIAS

Partilho com vocês esta lúcida manifestação do Padre Zezinho sobre a postura de alguns clérigos veiculadas na mídia recentemente.


Concordo com cada vírgula expressa por este sacerdote com vasta eperiência no campo da comunicação. E como já frequentei o seminário, devo reforçar que a nessecidade de um curso de prática e crítica de comunicação nestas casas de formação presbiteral é urgente...
 

A ERA DAS PEQUENAS EMINÊNCIAS

Excelente é mais do que bom. Alguém é excelente quando sua atividade, seus talentos e suas qualidades estão acima da média. Na Igreja Católica dá-se o título de “Excelência” aos bispos. “Eminência” é título dado a dignitários eclesiásticos que se distinguiram em alguma liderança e foram nomeados cardeais. São estes irmãos chamados cardeais que, por exemplo, elegem o Papa. Eles sabem do seu limite e das exigências da Igreja. A quem mais se confiou deste exige-se mais!...


Nos últimos 30 anos no Brasil, com o crescer da mídia tenho observado outro tipo de eminências. São até excelentes e acima do comum no que fazem, e certamente mereceriam reverências e vênias, porque, por seu trabalho na mídia estenderam o púlpito da Igreja. Só por isso já mereceriam aplausos. Quem atua na mídia sabe que não é simples nem fácil manter uma emissora de rádio ou de televisão e atuar nela todos os dias. Quem não atingiu a fama, tendo ou não procurado este destaque, não tem idéia dos meandros e das curvas e ciladas de um microfone, uma câmera ou um palco. E as piores ciladas começam dentro do pregador que acha que é o que não é, e que insiste em chamar os holofotes para a sua pessoa. E pobre de quem ousar fraternalmente chamá-lo às falas ou negar-lhe o espaço que ele acha que pode e merece ocupar... Nem cardeais escolhidos pelo Papa são tão ciosos de seu papel de eminência...
 

Refiro-me a pelo menos dez entrevistas de teólogos, cantores e padres famosos que, nessas últimas décadas, foram à grande mídia não católica ou até anti-católica, lavar a roupa suja de seus conflitos contra seus bispos, contra o papa, contra outras pastorais e contra outros padres. Não se contentaram com os foros que há na Igreja para resolver tais diferenças. Deram entrevistas em páginas amarelas de revistas de grande alcance, em programas de grande repercussão na televisão para justificar suas escolhas, seu casamento, sua rebeldia e seu jeito de ser famosos.
Quem leu a revista “Veja” de 17 de abril de 2011 teve ali um triste exemplo de imaturidade e do que significa sentir-se mais eminente do que se é. É o tipo de entrevistas que deveria ser lida e analisada em todos os seminários e movimentos católicos para os futuros pregadores aprenderem como não ser nem fazer quando tiverem nas mãos um microfone. Chega a ser patética...
 

O ainda jovem, mas ultra-famoso sacerdote que vendeu milhões de discos e livros, vai a público e confessa sua mágoa e indignação, passados quatro anos, contra a diocese e alguns líderes da mesma que, segundo ele, o humilharam e boicotaram, não lhe permitindo o destaque que ele achou que merecia quando o Papa esteve entre nós no Brasil.
Foram palavras dele na entrevista até agora não desautorizada por ele. Culpa aqueles líderes por sua quase depressão, porque negaram-lhe a realização do sonho de estar diante do Papa. Acabaram escolhendo outro e relegando-o a uma atuação secundária, ao amanhecer, em lugar onde havia poucas pessoas. Acusou-os de dor de cotovelo. Por que outros e não ele que fez tanto pela Igreja?
 

Mesmo depois de, mais tarde, haver recebido em Roma um prêmio de excelente evangelizador não se aplacou. Pela segunda vez diante da grande mídia, ainda magoado disse que interpretava aquele prêmio como “um cala boca” à diocese que não lhe dera o devido destaque na vinda do Papa quatro anos antes, ao Brasil. Em dado momento reclama que dos padres do Brasil apenas um ligou para cumprimentá-lo pelo prêmio. E dá a entender que não precisa do apoio deles... E declara que ainda espera uma manifestação da CNBB por sua conquista... Psicólogos dariam um nome para esse tipo de atitude...
 

Tudo, dito com realces de que é humilde, não é arrogante, é padre e usa batina; e com ataques pesados aos padres que não usam batina, deixando claro que a batina protege o padre contra o assédio das mulheres... Chega ao ponto de dizer que a batina é a “maior identidade sacerdotal”. Ora, padres e leigos sabem muito bem que o hábito não faz o monge. Confunde uniforme com identidade e identificação com identidade... Vão por aí as diatribes e o desfile de suas mágoas contra o boicote sofrido...
 

Mas ele não é o único. Há ex-religiosos famosos que falam contra as ordens e congregações que pagaram seus estudos, dizendo que lá não podiam exercer a caridade nem cuidar de sua família... Outros chamaram a gravadora católica, onde começaram, de incompetente ou de gravadora de fundo de quintal... E houve quem não hesitou em dizer que no Vaticano foi tratado com truculência. Como ninguém esteve lá para ver, fica a palavra dele contra o Vaticano que não costuma dar esse tipo de entrevistas-resposta aos padres insatisfeitos que atacam suas doutrinas ou disciplinas. Não satisfeitos em discordar, semeiam discórdia!
 

O fato triste e digno de um debate é que pregadores estão indo à mídia lá fora, lavar a roupa suja de seus conflitos com as autoridades de sua igreja. Não são poucos os que deixam as comunidades religiosas que os formaram para trabalhar como gostam e no que gostam, numa outra diocese. E vão sem a menor culpa. E há os que mudam de diocese, para estar diante de microfones e câmeras, ou para tocar adiante seu projeto pessoal que acham mais importante para a Igreja do que os projetos do grupo religioso onde pronunciaram seu voto de obediência...
 

Diante das exigências de seu grupo que, agora, depois da oportunidade de ser eminentes lhes parecem absurdas, simplesmente saem em busca de um púlpito mais aberto às suas aspirações. Talvez estejam certos, talvez não! Mas a ingratidão com que se portam, mostra que escolheram a si mesmos e o seu projeto. Não há retribuição...
 

O que deve ser objeto de reflexão é a franca disposição de pressionar o bispo, a diocese ou a ordem a reconhecer os seus talentos. Valem-se de todos os meios, inclusive a estratégia de expor para o país inteiro seu conflito pessoal com as dioceses onde atuam. O bispo, que não é tão famoso, acaba em situação delicada. Não pode falar o que sabe e não pode expor ainda mais o pregador que já se expôs além da conta! O padre queixoso aparece como vítima que até cai em depressão, porque a diocese não reconheceu a sua liderança...
 

Está tudo claro e sem rodeios nas entrevistas tipo lavanderia! Na era das eminências que mais do que auto-estima vivem um clima de altíssima estima de si mesmos, um pouco de ascese não faria mal aos futuros comunicadores da fé. Se não forem reconhecidos, com ou sem batina ou colarinho, mostrem que realmente têm fé e seguem os evangelhos. Perdoem e recolham-se à sua significância que nunca será insignificância, mas que também não pode ser supra-relevância.
 

Ficar deprimido porque não foi valorizado na vinda do Papa? Um pregador da fé? Não teria sido muito mais cristão manter a boca fechada, solicitar audiência, ir ao líder da diocese e ali derramar suas mágoas? Tinha que ir às páginas amarelas de uma revista que sabidamente não prima em elogiar a Igreja que o ordenou pregador? Francamente! Institua-se urgentemente nos seminários desde o primeiro ano um curso de Prática e Crítica de Comunicação. É que algumas atuações têm andado abaixo da crítica!...